domingo, 27 de abril de 2008

CIRANDA DA METEMORFOSE EXPRESSIVA

A professora Rosvita contextualizou historicamente a arte na educação, as diferentes abordagem e conceitos no decorrer dos anos, pontuando questões como o caráter utilitário, o psicologismo na interpretação da expressão artística infantil, as técnicas academicistas, o debate entre a interferência na produção artística, mais especificamente no desenho da criança e a não interferência, a produção artística como simples expressão e a produção como construção de um processo de conhecimento.
Na questão da interferência do professor na produção do aluno, discutimos essa interferência como uma “alimentação” das referências que temos e que podemos vir a ter, ampliando assim nosso repertório de vivencias. Para o meu entendimento, fiz um comparação dentro da prática da alfabetização musical, com o modelo (T)EC(L)A de K. Swanwick, baseado nos princípios da execução/performance, composição e audição/apreciação. Nos parâmetros da apreciação, execução e composição/criação, podemos reconhecer sete categorias: o reconhecimento e discriminação, resposta expressiva, armazenamento e recuperação, memorização e imitação, execução, improvisação e composição que é a criação em si (OGILVIE, 1992). Analisando estes estágios, compreendemos melhor a importância de, enquanto educadores, apresentarmos referenciais para subsidiar o processo de criação. Assim como para o músico, a apreciação, o “ouvir” é fundamental no seu processo de composição autônoma; para a expressão criativa através do desenho, da arte visual, é fundamental o “ver”, o experenciar diferentes formas, cores, texturas, aumentando assim o repertório referencial para a construção de sua própria expressão criadora.
Para lermos e relermos, interpretar ou calar, o “texto” tem que estar presente. É como se constantemente costurássemos e recosturássemos uma colcha de retalhos, onde cada pedaço é um elemento novo que tem sua própria história e seu enredo para que eu me apropriasse dele e o conduzisse a minha própria produção. Sempre buscamos referenciais, seja na natureza, no nosso próprio corpo, experiências; das pinturas rupestres nas cavernas da pré-história, onde se representavam as caçadas, os fenômenos da natureza, como uma forma de linguagem, registrando assim seus feitos e histórias; até o surrealismo de Dali; ou os grafismos da crianças nos seus primeiros desenhos; ou ainda as costuras, tiras por tiras, objetos por objetos de Artur Bispo do Rosário. Na Espiral de Swanwick, como na ciranda da metamorfose expressiva, o movimento é circular e contínuo, construímos e reconstruímos à partir de referenciais e vivencias, sejam em relação ao meio, aos objetos mas principalmente nas sócio-interações. Como destaca MOLL (1996), com base nos estudos de Vygotsky, amadurecer ou desenvolver funções mentais é algo que deve ser encorajado e medido pela colaboração, e não por atividades independentes e isoladas. O que as crianças podem realizar com assistência, ou em colaboração, poderão amanhã realizar com independência e competência.
A professora Rosvita nos despertou para essa discussão sobre a medida da interferência do professor na produção e expressão artística do aluno. Ficou claro no meu entendimento, a necessidade de proporcionar ao aluno materiais variados, tamanhos e tipos diversos, diferentes possibilidades do fazer, leituras variadas de diferentes expressões e estilos, oportunidades de apreciação, uma alimentação estética ativa, na espiral contínua e ascendente entre o nível de desenvolvimento real, o desenvolvimento potencial e a zona de desenvolvimento proximal, conforme o conceito vygotskyano. Por toda essa reflexão, escolhi resumir as discussões na fala de LIBANEO (1986), quando diz que:

Há sempre um professor que intervém, não para se opor aos desejos e necessidades ou à liberdade e autonomia do aluno, mas para ajudá-lo a ultrapassar suas necessidades e criar outras, para ganhar autonomia, para ajudá-lo a compreender as realidades sociais e sua própria experiência.


CLAUDIA CONTE DOS ANJOS LACERDA
(Texto elaborado a partir da 1a aula com a Professora Rosvita Kolb
UFJF/FACED/CEART/2002 e com os referenciais bibliográficos abaixo)


BIBLIOGRAFIA:

DEBATES, nº 4 – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de Letras e Artes da Unirio. Rio de Janeiro, CLA/Unirio, 2001, 104 p.

BEAUMONT, Maria Teresa. “A prática da alfabetização musical (...)” – Anais do X Encontro Anual Nacional da ABEM. Uberlândia. UFU. 2001

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