quinta-feira, 30 de outubro de 2008

1ª MOSTRA DOS CONSERVATÓRIOS ESTADUAIS DE MÚSICA DE MINAS GERAIS

Dos dias 21 à 31 de outubro de 2008, a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, promove a 1ª Mostra dos Conservatórios Estaduais de Música de Minas Gerais.

Com o título: "HÁ MÚSICA EM MINAS: DAS SALAS DE AULA ÀS SALAS DE ESPETÁCULO", a Mostra tem por objetivo divulgar a produção artística dos Conservatórios estaduais de Música e promover o intercâmbio de idéias e propostas de educação musical entre os participantes. Na programação das atividades, que acontecem no Instituto de Educação em Belo Horizonte, além das apresentações a noite, durante o dia os Conservatórios ministram Oficinas e Palestras, com temas variados na Educação Musical. Estão previstos dois Conservatórios a cada dia, com uma média de quatro a cinco apresentações.

Na abertura do evento, dia 21, os Conservatórios Lia Salgado (de Leopoldina) e Lorenzo Fernândez (de Montes Claros), fizeram a festa com brilhante apresentação. O Conservatório de Montes Claros apresentou uma Big Band e o Grupo de Dança Folclória Zabelê. O Conservatório de Leopoldina, com vários professores/alunos do nosso Curso de Licenciatura em Música da UninCor/Leopoldina, apresentou a Orquestra de Flauta Doce, um trabalho com as crianças do Conservatório, do Ciclo Intermediário ao Complementar, com repertório diversificado, sob a regência da Profª Cristiane Gonçalves, num trabalho integrado dos demais professores da área e também apresentou a Leopoldina Experimental Orquestra, com repertório e arranjos interessantes, sob a regência da Profª Denise Vidon , com os alunos do Curso Técnico. Ponto alto foi a interação com a platéia que participou ativamente.

Sem dúvida, iniciativas como essa, incentivam o trabalho dos profissionais e a produção artística dos Conservatórios de Música, mostrando o valor educacional e cultural dessas escolas em seus municípios.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

MÚSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA - Lei nº 11769/2008 - Discussão da Turma de Prática de Ensino/Licenciatura em Música - UninCor/Leopoldina

  • Com relação a nova Lei nº 11769/2008, sabemos das dificuldades que serão encontradas quanto ao número de professores habilitados para ministrarem as aulas de música, porém achamos fundamental a formação do professor nesta área. Reconhecemos que talentos existem, mas a preocupação com a parte pedagógica deve ser respeitada. Se em instituições oficiais, só pode dar aula o professor com Licenciatura, não se pode haver exceções quanto a música. O prazo dado de 3 anos letivos para se adaptarem as exigências é suficiente para que os profissionais interessados possam estar buscando sua habilitação. Temos que valorizar nossa classe e fazer valer nosso esforço, exigindo que a educação musical tenha um ensino de qualidade - Alunos(as): Vânia Bedin, Vânia Guida, Aurinéa, Renata Iennaco, Cyinthia Libório.
  • Consideramos a aprovação da lei do ensino obrigatório de música nas escolas regulares um avanço, não apenas da educação brasileira como um todo, mas também para toda a sociedade. Haja vista que este tipo de ensino foi subtraído do currículo escolar. Sabemos que é de grande importância a democratização deste conteúdo, valorizando a cultura musical regional de cada estado (Folia de Reis, Boi Bumbá, Capoeira), visando também até mesmo a inclusão de pessoas que não possuem formação acadêmica na área (cantadores, violeiros, seresteiros). Porém, há uma brecha no que diz respeito ao veto (Artigo 2º). Abre-se a possibilidade de interpretar a falta da exigência da formação específica em música para o favorecimento de profissionais com habilidade reconhecida no conteúdo, sem formação acadêmica, formando possíveis prejuízos aos atuais licenciados e quem sabe, até mesmo aos futuros. Há que se pressionar aos Conselhos Municipais e nEstaduais em relação ao entendimento da necessidade da formação pedagógica e específica da área de música, a fim de não penalizar todas as pessoas envolvidas no processo (comunidade escolar). Música não é exclusivamente uma "prática social" (como disse o Ministro da Educação Fernando Haddad nas razões do veto). Música é uma ciência que deve ser estudada e respeitada como tal - Alunos(as): Aline Cristina, Edmilson Elpes, Jefferson Barbosa, Patrícia Barbosa, Raphaela do Bem, Renata Roriz.
  • A partir do comentário do texto sobre a Lei nº 11769/2008, surgiu uma dúvida sobre o parágrafo 6º, que diz a respeito da Música, uma atividade curricular ou extra curricular? Diante disto, teremos que aguardar a complementação da Lei, os Pareceres de órgãos competentes, não deixando de questionar sobre essas dúvidas. O veto não teve um objetivo claro, pois num momento ele diz que uma pessoa sem formação oficial poderia ministrar aulas, em outro instante a LDBEN exige uma formação mínima. O próprio presidente da ABEM diz que o veto não é importante e sim, priorizarmso a Lei - Alunos(as): Adriana Ribeiro, Alraniza Freire, Juliana Filomeno, Renata Gomes, Rodrigo Dutra.
  • Nós concordamos com a opinião do Presidente da ABEM quando considera que a aprovação da Lei é uma grande conquista e que o que vale é a Lei e não o veto. Sabemos que em muitos casos não se exige formação específica para atuar na educação básica, quando não há profissional habilitado. Cremos que deveria haver um acordo entre as Secretarias de Educação dos Estados e Municípios para estabelecer os critérios para que o profissional habilitado tenha prioridade sobre o não habilitado - Alunos(as): Marcela Freitas, Mônica Alves, Greides Alves, Júnio César, Maria Lígia, Maria Luisa.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Música nas Escolas

Hoje, dia 19 de agosto de 2008, saiu publicado no Diário Oficial da União a alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96), garantindo a obrigatoriedade do ensino da Música na Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio).

Posso dizer que esperei com expectativa esse dia, onde divulgaria uma boa notícia. Mas, meu sentimento é mais de decepção, ou talvez de ressaca, ainda estou tentando definir. Acredito que é mais ou menos aquela sensação de "nadar, nadar e depois de muitas braçadas, morrer na praia, ou quem sabe, ir para a UTI". O Presidente da República sancionou o Projeto de Lei, mas vetou o Artigo que garantia a formação especializada para ministrar tal conteúdo. E o que isso quer dizer? Quer dizer que não foi a conquista esperada e necessária. Dizer numa Lei que a Música é obrigatória na integralização do Parágrafo 2º do Art. 26 da LDBEN, que dispõe sobre o Ensino de Arte dizendo: "O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos" e sendo do nosso conhecimento que nos Parâmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais, consta a Música entre as demais linguagens artísticas, já orientando para este trabalho, é quase uma redundância. E por fim, abrindo mão da especialidade na formação do profissional que ministrará esse conteúdo, é mais uma vez, brincar de fazer Educação.

Não queremos Leis para simplesmente polemizar, ou para reescrever o que já esta escrito, ou para garantir emprego para este ou aquele profissional. Queremos Leis que verdadeiramente correspondam aos ideais de Formação Humana, em consonância com as bases epistemológicas que edificam a Educação, a produção do conhecimento.

Garantir a obrigatoriedade do ensino da Música na Educação Básica e do Profissional Especializado não seria o fim de uma discussão e sim a continuidade de um amplo debate. Essa discussão já vem acontecendo nas principais instituições formadoras, nos eventos de referência na área. Essa proposta não é fruto da vontade de alguns profissionais, mas é conseqüência de estudos pesquisas, de muitos, ao longo de uma efetiva caminhada, produzido inclusive nas Universidades Públicas. Discutir sobre a estrutura e condições para essas aulas, sobre o currículo de formação do Educador Musical para atender a essa demanda, entre outros assuntos, já é uma realidade e seria mais intensa a partir da nova Legislação, o que com certeza nos levaria com o tempo a um trabalho de excelência e a melhoria dos resultados educacionais.

Mas e agora? O que vamos discutir? Vamos discutir que a Música já está lá, na área de arte e qualquer profissional está habilitado para ministrá-la? Será que vão distribuir cartilhas instrutivas e manuais, tentando convencer os Professores da Educação Básica que eles podem colocar mais esse ingrediente na salada mista que virou a rotina escolar? A salada mista de doce, já ficou salgada e ultimamente tem ficado amarga. Mas o meu maior questionamento é: Que música queremos nas escolas? Qual o verdadeiro objetivo de dizer que este é um conteúdo obrigatório na Escola? É para falar simplesmente que tem música na escola? Que Música é essa?

Não é fácil descartar o trabalho dos pesquisadores na área, não é fácil reduzir uma fundamentação tão séria, como a cognição da Arte no ser humano à atividades simplesmente recreativas, sem começo, meio e fim. Hoje já amargamos a perda do profissional especializado em Arte nos anos iniciais do Ensino Fundamental, pois na maioria das Escolas Públicas, esse conteúdo foi integralizado às outras tarefas do Professor Regente, que está longe de ter tido uma formação para esta ação. Mais uma vez é a "boa vontade", a "intuição" do Professor. Se é a Escola a responsável institucionalmente pela Formação Humana, por que não há seriedade na formação e direcionamento das equipe profissionais? Podemos só repetir uma velha citação (mas que parece que ainda não teve a devida atenção): "não sentamos numa cadeira odontológica para tratar de dente com uma pessoa que não é formada em Odontologia, com diploma reconhecido, mas as nossas crianças sentam todos os dias nas cadeiras escolares diante de professores leigos, sem formação específica para as áreas que atuam". Mas, não nos importamos, “pra formar pessoas, qualquer um serve, é só ter boa vontade, ou estar precisando de emprego”. Incomoda ouvir isso? Para algumas pessoas, incomoda a dor de dente, que é momentânea, não incomodaria tanto os equívocos educacionais, não sentimos num primeiro momento, em nossa própria pele, mas essas conseqüências, vamos sentir por toda uma vida, por gerações e com certeza, vai nos incomodar muito mais que a momentânea dor de dente.

Não quero que as pessoas sintam dor de dente e se acomodem com isso, mas também não quero que as crianças sejam privadas de uma formação integral, uma formação na essência do seu ser, em plenitude. Aí sim, estaremos Construindo uma Sociedade Justa, Igualitária, Fraterna e Próspera.

Atualmente a Arte está fora do cotidiano escolar, falta Estética, Criatividade, Sensibilidade, Humanização, Música, Amor... E em alguns lugares, falta comida na barriga dos alunos. Essa é a Escola que temos e assim será o País que teremos.

Profª Claudia Conte

quarta-feira, 18 de junho de 2008

DESENVOLVIMENTO MENTAL

PENSAMENTO – ESTRUTURAS E SÍMBOLOS – PROCESSOS COGNITIVOS (Segundo Jean Piaget)
DESENVOLVIMENTO INFANTIL – OPERAÇÕES MENTAIS

· Crianças em diferentes idades constroem o mundo de formas fundamentalmente diferentes das dos adultos;
· Na infância, as operações mentais e “estados cognitivos” característicos são qualitativamente diferentes;
· Todo conhecimento deriva das ações humanas sobre o mundo;
· Piaget investigou os sinais primordiais da inteligência humana durante as primeiras semanas e meses de vida;
· Os primeiros atos motores e discriminações sensoriais do bebê, constituem as manifestações mais precoces do intelecto;

OPERAÇÕES MENTAIS – MOLAS MESTRAS DO PENSAMENTO
· ­Segundo Piaget, os objetivos do desenvolvimento incluem a habilidade:
1- para raciocinar de modo abstrato;
2- para pensar sobre situações hipotéticas de modo lógico;
3- para organizar regras – operações em estruturas de nível superior mais complexo.

· Piaget define como processos fundamentais na atividade intelectual, a assimilação e acomodação, que quando equilibrados, constituem a adaptação ® organização ® estrutura intelectual ® “ato inteligente”
· Equilibração: compensação para o que é externo ao indivíduo, é uma atividade dinâmica móvel que envolve os mecanismos de:
· Assimilação: incorporação de dados da experiência externa;
· Acomodação: Modificação dos elementos dos esquemas pré-existentes para incorporar novos elementos assimilados.

OS QUATRO ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO

· ­1º Estágio (os primeiros dois anos de vida): INTELIGÊNCIA SENSÓRIO-MOTORA: a criança “conhece” o mundo exclusivamente através de suas próprias percepções e ações sobre ele. No começo da vida, até os dez e doze meses, o conhecimento do bebê é restrito às ações físicas que ele pode desempenhar sobre um objeto.
Ø O bebê pode sugar o objeto, mordê-lo, agarrá-lo, amassá-lo de várias formas. Contudo, carece de qualquer entendimento dissociado de suas ações, e, uma vez que o objeto esteja fora de seu campo de visão, é incapaz de pensar sobre ele.
Ø Percepção da permanência do objeto: aproximadamente aos 18 meses (um ano e meio),a criança percebe que o objeto existe mesmo quando não está olhando para ele. Ela buscará persistentemente o objeto quando ele desaparecer e será capaz de imaginar para onde ele foi, quando jogado em uma determinada direção.
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· 2º Estágio (anos pré-escolares, de 2 à 7 ou 8 anos): PENSAMENTO INTUITIVO OU SIMBÓLICO – ESTÁGIO PRÉ-OPERACIONAL: a criança é capaz de usar linguagem, imagens mentais e outros tipos de símbolos para referir-se ao mundo que ela anteriormente conhecia apenas agindo diretamente sobre ele.
Ø Mas mesmo assim, o conhecimento através de símbolos é ainda estático: a criança não pode manipular as “imagens” que carrega em sua mente. A criança torna-se capaz de usar vários tipos de símbolos com referência ao objeto manipulado.
Ø Ao aprender a palavra bola, ela usa mais ou menos apropriadamente para referir-se a objetos redondos. Pode até arremessar uma bola de faz-de-conta, pode sonhar através de imagens mentais e imitar os movimentos de uma bola.
Ø De um ano e meio ou 2 até os 4 ou 4 anos e meio, dentro do Estágio Pré-operacional, podemos dizer que a criança está na fase pré-conceptual, que se caracteriza por uma “assimilação egocêntrica”, que simboliza a realidade apresentada por meio de imagens particulares (centração);
Ø Mais adiante, dos 4 ou 5 anos até uns 7 ou 8 anos, é a segunda fase do Estágio Pré-operacional, nela a assimilação e a acomodação tendem a se equilibrar. O pensamento continua sendo elaborado predominantemente com imagens e intuições, continua preso aos objetos concretos e suas qualidades perceptíveis.
Ø Estágio intuitivo e pré-operacional: o objeto para a criança se restringe à imagem estática e a sua própria perspectiva, ela não reconhece que uma bola pode mudar sua forma e ainda manter sua massa, não reconhece que um conjunto de cinco bolas organizadas em círculo é equivalente ao mesmo número de bolas em linha reta.

· ­3º Estágio (anos escolares, a partir dos 7 ou 8 anos até a adolescência, 11 ou 12 anos): PENSAMENTO OPERACIONAL CONCRETO: a criança é capaz de manipular as imagens mentais e outras formas de conhecimento simbólico. É o início do raciocínio com palavras e a condução de experiências simples.
Ø A criança pode apreciar um conjunto de objetos não apenas de sua perspectiva presente, mas através do uso de “ações internas” ou “operações mentais”, do ponto de vista de uma outra pessoa, situada em outro lugar.
Ø Em sua mente, a criança pode nesse estágio, andar para trás e para frente, entre duas perspectivas sobre a mesma cena, utilizando a operação central de reversibilidade e assim pode conservar números e também classificar e seriar. Pode dar uma definição simples da palavra bola e reconhecer que um objeto pode ser ao mesmo tempo uma bola, um brinquedo e uma coisa redonda.
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· 4º Estágio (começa no início da adolescência, 11 ou 12 anos): OPERAÇÕES FORMAIS: a criança torna-se capaz de desempenhar ações mentais sobre símbolos e entidades físicas. Pode escrever equações, pronunciar proposições e desempenhar manipulações lógicas sobre seqüências e símbolos, combinando, contrastando e negando estes.
Ø A criança torna-se capaz de postular e resolver problemas científicos que requerem a manipulação de variáveis relevantes. Produz abstrações mentais com relação ao objeto, além de antecipar o que acontecerá com o objeto sob diversas condições, ela pode discutir em termos de leis científicas, fazer previsões, testar hipóteses.
Ø O jovem, no pensamento operacional formal, pode resolver problemas de raciocínio como: a bola A é maior que a bola B, a bola B é menor que a bola C, qual bola é a maior de todas? Ele tem capacidade para escrever um ensaio sobre esferas e apreciar princípios newtonianos sobre o comportamento dos objetos esféricos.

“Uma vez que assimilemos a teoria de Piaget, deveríamos então, ser capazes de abordar as crianças de um modo muito mais apropriado”
BIBLIOGRAFIA

­MUSSEN, Paul H; CONGER, John Janeway; KAGAN, Jerome. Desenvolvimento e Personalidade da Criança. Trad. Maria Silvia Mourão Netto. São Paulo: Editora Harper & Row, 1977.p.30.

­PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Trad. Álvaro Cbral. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.

­GARDNER, Howard. Arte, mente e cérebro: uma abordagem cognitiva da criatividade. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

­LANNOY, Dorin. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Ed. Do Brasil, 1982.
OBSERVAÇÃO: Este texto, complementa o texto que estudamos sobre a Teoria do Desenvolvimento Musical de SWANWICK. É importante, para uma melhor compreensão, fazer a comparação das duas teorias.
Profª Claudia Conte

terça-feira, 29 de abril de 2008

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO MUSICAL

Quando falamos em Educação, pressupomos estudos sobre desenvolvimento e a aprendizagem humana. Seria ingenuidade ou até mesmo irresponsabilidade dos Educadores Profissionais, não buscarem o conhecimento em relação aos processos de construção do saber, seja em qual for a área da aprendizagem.
Não desconsideramos o aspecto intuitivo do processo e a chamada aptidão para o ofício, onde muitos vão chamar de vocação, talento, dom para a profissão. Mas este é apenas um dos elementos que vão integrar o conjunto de competências do Professor/Educador Profissional. Podemos resumir essas competências em três elementos básicos e fundamentais, constitutivos da Ética do Educador:
  1. Competência Humana;
  2. Competência Técnica;
  3. e o Acreditar e Agir.

E o que dizermos do Educador Musical? Muitas vezes, vamos encontrar neste profissional muito talento musical, muita intuição para a condução do processo, mas pouco conhecimento sobre processos de desenvolvimento da aprendizagem ou da didática musical. É comum encontrarmos profissionais que usam como referência, sua restrita experiência como aprendiz aliada a prática diária como professor, num fazer constante que passeia entre repertórios, livros/métodos tradicionais, sugestões de exercícios técnicos, onde alternam conteúdos, quantidade destes numa determinada linha de tempo. Mas tudo isso sem uma fundamentação teórica, que aponte para os reais objetivos deste fazer e da compreensão da dimensão do processo de construção da aprendizagem artística e musical.

Como aprendemos música? Como funciona nossa mente em relação à inteligência artística e musical? Como se dá o processo de cognição da arte? Para as respostas em relação a essas perguntas e tantas outras mais, temos que partir da compreensão do processo de desenvolvimento humano, os níveis e etapas de construção do conhecimento no homem, que apontam para o nosso pensar, as nossas elaborações mentais a partir das nossas interações e sócio-interações. Assim, são referências para nós as teorias clássicas, os estudos de Piaget, Vygotsky, Gardner, entre outros. Como também toda a teoria das Inteligências Múltiplas.

No campo específico da Educação Musical, é expressivo o trabalho desenvolvido pelo educador inglês Keith Swanwick, principalmente por considerar uma base epistemológica que destaca o desenvolvimento e a construção do conhecimento em etapas sucessivas e contínuas. Referência para muitos pesquisadores da atualidade, Swanwick conseguiu organizar em sua teoria, o que muitos de nós considerávamos de forma intuitiva na aprendizagem musical, fundamentando em bases científicas o processo de criação, execução, apreciação, técnica, sem fragmentação, num contínuo desenvolvimento.

Para uma melhor compreensão do estudo de Swanwick, sugiro a leitura do texto encontrado em: http://trombeta.cafemusic.com.br/trombeta.cfm?CodigoMateria=756&procura=Swanwick, que resume de forma prática a idéia central de sua Teoria Espiral, considerando ainda como relevante para a prática do Educador Musical, a proposta de uma pesquisa mais completa e detalhada de seu trabalho.

Profª Claudia Conte dos Anjos Lacerda

Prática de Ensino/Licenciatura em Música/Unincor-Leopoldina

domingo, 27 de abril de 2008

CIRANDA DA METEMORFOSE EXPRESSIVA

A professora Rosvita contextualizou historicamente a arte na educação, as diferentes abordagem e conceitos no decorrer dos anos, pontuando questões como o caráter utilitário, o psicologismo na interpretação da expressão artística infantil, as técnicas academicistas, o debate entre a interferência na produção artística, mais especificamente no desenho da criança e a não interferência, a produção artística como simples expressão e a produção como construção de um processo de conhecimento.
Na questão da interferência do professor na produção do aluno, discutimos essa interferência como uma “alimentação” das referências que temos e que podemos vir a ter, ampliando assim nosso repertório de vivencias. Para o meu entendimento, fiz um comparação dentro da prática da alfabetização musical, com o modelo (T)EC(L)A de K. Swanwick, baseado nos princípios da execução/performance, composição e audição/apreciação. Nos parâmetros da apreciação, execução e composição/criação, podemos reconhecer sete categorias: o reconhecimento e discriminação, resposta expressiva, armazenamento e recuperação, memorização e imitação, execução, improvisação e composição que é a criação em si (OGILVIE, 1992). Analisando estes estágios, compreendemos melhor a importância de, enquanto educadores, apresentarmos referenciais para subsidiar o processo de criação. Assim como para o músico, a apreciação, o “ouvir” é fundamental no seu processo de composição autônoma; para a expressão criativa através do desenho, da arte visual, é fundamental o “ver”, o experenciar diferentes formas, cores, texturas, aumentando assim o repertório referencial para a construção de sua própria expressão criadora.
Para lermos e relermos, interpretar ou calar, o “texto” tem que estar presente. É como se constantemente costurássemos e recosturássemos uma colcha de retalhos, onde cada pedaço é um elemento novo que tem sua própria história e seu enredo para que eu me apropriasse dele e o conduzisse a minha própria produção. Sempre buscamos referenciais, seja na natureza, no nosso próprio corpo, experiências; das pinturas rupestres nas cavernas da pré-história, onde se representavam as caçadas, os fenômenos da natureza, como uma forma de linguagem, registrando assim seus feitos e histórias; até o surrealismo de Dali; ou os grafismos da crianças nos seus primeiros desenhos; ou ainda as costuras, tiras por tiras, objetos por objetos de Artur Bispo do Rosário. Na Espiral de Swanwick, como na ciranda da metamorfose expressiva, o movimento é circular e contínuo, construímos e reconstruímos à partir de referenciais e vivencias, sejam em relação ao meio, aos objetos mas principalmente nas sócio-interações. Como destaca MOLL (1996), com base nos estudos de Vygotsky, amadurecer ou desenvolver funções mentais é algo que deve ser encorajado e medido pela colaboração, e não por atividades independentes e isoladas. O que as crianças podem realizar com assistência, ou em colaboração, poderão amanhã realizar com independência e competência.
A professora Rosvita nos despertou para essa discussão sobre a medida da interferência do professor na produção e expressão artística do aluno. Ficou claro no meu entendimento, a necessidade de proporcionar ao aluno materiais variados, tamanhos e tipos diversos, diferentes possibilidades do fazer, leituras variadas de diferentes expressões e estilos, oportunidades de apreciação, uma alimentação estética ativa, na espiral contínua e ascendente entre o nível de desenvolvimento real, o desenvolvimento potencial e a zona de desenvolvimento proximal, conforme o conceito vygotskyano. Por toda essa reflexão, escolhi resumir as discussões na fala de LIBANEO (1986), quando diz que:

Há sempre um professor que intervém, não para se opor aos desejos e necessidades ou à liberdade e autonomia do aluno, mas para ajudá-lo a ultrapassar suas necessidades e criar outras, para ganhar autonomia, para ajudá-lo a compreender as realidades sociais e sua própria experiência.


CLAUDIA CONTE DOS ANJOS LACERDA
(Texto elaborado a partir da 1a aula com a Professora Rosvita Kolb
UFJF/FACED/CEART/2002 e com os referenciais bibliográficos abaixo)


BIBLIOGRAFIA:

DEBATES, nº 4 – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de Letras e Artes da Unirio. Rio de Janeiro, CLA/Unirio, 2001, 104 p.

BEAUMONT, Maria Teresa. “A prática da alfabetização musical (...)” – Anais do X Encontro Anual Nacional da ABEM. Uberlândia. UFU. 2001

quarta-feira, 12 de março de 2008

Arte-Cultura-Pedagogia de Projetos

Prof ª Verônica/UFJF/FACED/CEARTI/2002

Partindo de sua experiência na Escola Balão Vermelho de Belo Horizonte e nos projetos de Educação Indígena, na formação de Professores Índios, Verônica trouxe sua contribuição como Pedagoga, enfatizado entre os procedimentos e recursos didáticos, os Projetos Pedagógicos, enquanto estratégia de planejamento e efetivação de um trabalho compartilhado, construído em conjunto no dia a dia da sala de aula e tendo como referência, Fernando Hernández. Da sua experiência com os índios, seu trabalho de Mestrado, pesquisando a cultura indígena, a arte como expressão pura, natural, revestida de uma intencionalidade espontânea, como fator intrínseco no homem, a arte pela arte, observada na Tribo dos Xacriabás. Expressão esta que Verônica reencontra, no trabalho marcante de Artur Bispo do Rosário, que ela se inspira para um projeto de sala de aula com as crianças da Escola Balão Vermelho e que nos relata como exemplo de um Projeto construído coletivamente.
A Tribo dos Xacriabás fica no Norte de Minas Gerais, na região próxima a Montes Claros e do Estado da Bahia, são índios que já estão miscigenados com os negros, são pobres e moram em casas de pau-a-pique. No seu trabalho, Verônica pesquisa os jogos de versos e a pintura das casas, que é uma manifestação artística peculiar e atípica. As casas são caiadas e depois pintadas, decoradas com flores, figuras do cotidiano, motivos diversos. As mulheres é que fazem essas pinturas e usam o toá, uma pedra de argila; pintam tanto por fora, quanto por dentro das casas e todos os anos as pinturas são renovadas, pois quando vem as chuvas a pintura externa sai. Eles pintam tudo novamente, inclusive por dentro. Da mesma forma que se utilizam de jogos de verso para casamentos, morte, etc., pintar as casas também é um ritual onde cada um tem seu papel, os homens preparam a casa, as paredes, fazem a caiação, as mulheres pintam, decoram. É neste ponto, que nos encantamos com esse trabalho, pois estamos diante de uma manifestação de cultura popular muito rica em expressividade. É poder analisar a arte no seu sentido mais puro e natural, não pela questão comercial ou mero suporte utilitário, mas pela necessidade de criar, do fazer artístico, da arte enquanto linguagem de expressão.
Na questão da Pedagogia dos Projetos, discutimos sobre a exposição com base nas idéias de Fernando Hernandez e na experiência de Verônica em sala de aula, com crianças e na formação de Professores. Partimos então do princípio que Projeto Pedagógico é algo programável, construído junto com a turma.

Contextualizando:
Modelo escolar excludente ð fragmentação
- Tempo ð grade, séries, bimestre
- Espaço ð sala de aula
- Trabalho ð divisão de trabalho, individualismo
- Aprendizagem ð lógica, compartimentada
- Sujeitos: Aluno ð folha em branco; Professor ð executor de tarefa
Modelo escola não excludente
- Tempo ð cíclico ð organizado conforme o grupo
- Espaço ð todos os espaços são de aprendizagem
- Trabalho ð construído em conjunto
- Aprendizagem ð é real, tem significado, sem limites
- Sujeitos: Professor e Aluno são ativos, participam de todo o processo, inclusive da avaliação

O que não é Projeto:
- Processo descritivo de um tema;
- Apresentação do que sabe o professor;
- Processo expositivo sem problema e sem fio condutor;
- Apresentação linear de um tema baseada em uma seqüência estável e única de passos;
- Pensar que os alunos vão aprender o que queremos ensinar-lhes;
- Converter em matéria de estudo o que os alunos querem aprender.

1a Caracterização de um Projeto de Trabalho:
- Parte de um tema ou problema definido com a turma;
- Inicia com processo de investigação;
- Critérios de ordenação e interpretação das fontes;
- Novas dúvidas;
- Relações com outros problemas;
- Organiza-se o processo de elaboração do conhecimento que foi conseguido;
- Recapitula-se e avalia o que foi aprendido;
- Se conecta com um novo tema/problema.

O que poderia ser um Projeto:
- Desencadeado por um tema-problema;
- Predomínio da cooperação – o professor também é um aprendiz e não um “exper”;
- Busca estabelecer conexões, questionando as versões únicas da realidade;
- Cada processo é singular e trabalha com diferentes tipos de informação;
- O docente ensina a escutar – do que os outros dizem também podemos aprender;
- O que queremos ensinar aos alunos, há diferentes formas de aprendê-lo (e não sabemos se aprenderão isso ou outras coisas);
- Um tratamento atualizado do problema das disciplinas e dos saberes;
- Uma forma de aprendizagem onde consideramos que todos os alunos podem aprender se encontrarem seu espaço;

Por isso não se duvida de que a aprendizagem, vinculada ao fazer, à atividade manual e à intenção, também é uma forma de aprendizagem.