terça-feira, 29 de abril de 2008

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO MUSICAL

Quando falamos em Educação, pressupomos estudos sobre desenvolvimento e a aprendizagem humana. Seria ingenuidade ou até mesmo irresponsabilidade dos Educadores Profissionais, não buscarem o conhecimento em relação aos processos de construção do saber, seja em qual for a área da aprendizagem.
Não desconsideramos o aspecto intuitivo do processo e a chamada aptidão para o ofício, onde muitos vão chamar de vocação, talento, dom para a profissão. Mas este é apenas um dos elementos que vão integrar o conjunto de competências do Professor/Educador Profissional. Podemos resumir essas competências em três elementos básicos e fundamentais, constitutivos da Ética do Educador:
  1. Competência Humana;
  2. Competência Técnica;
  3. e o Acreditar e Agir.

E o que dizermos do Educador Musical? Muitas vezes, vamos encontrar neste profissional muito talento musical, muita intuição para a condução do processo, mas pouco conhecimento sobre processos de desenvolvimento da aprendizagem ou da didática musical. É comum encontrarmos profissionais que usam como referência, sua restrita experiência como aprendiz aliada a prática diária como professor, num fazer constante que passeia entre repertórios, livros/métodos tradicionais, sugestões de exercícios técnicos, onde alternam conteúdos, quantidade destes numa determinada linha de tempo. Mas tudo isso sem uma fundamentação teórica, que aponte para os reais objetivos deste fazer e da compreensão da dimensão do processo de construção da aprendizagem artística e musical.

Como aprendemos música? Como funciona nossa mente em relação à inteligência artística e musical? Como se dá o processo de cognição da arte? Para as respostas em relação a essas perguntas e tantas outras mais, temos que partir da compreensão do processo de desenvolvimento humano, os níveis e etapas de construção do conhecimento no homem, que apontam para o nosso pensar, as nossas elaborações mentais a partir das nossas interações e sócio-interações. Assim, são referências para nós as teorias clássicas, os estudos de Piaget, Vygotsky, Gardner, entre outros. Como também toda a teoria das Inteligências Múltiplas.

No campo específico da Educação Musical, é expressivo o trabalho desenvolvido pelo educador inglês Keith Swanwick, principalmente por considerar uma base epistemológica que destaca o desenvolvimento e a construção do conhecimento em etapas sucessivas e contínuas. Referência para muitos pesquisadores da atualidade, Swanwick conseguiu organizar em sua teoria, o que muitos de nós considerávamos de forma intuitiva na aprendizagem musical, fundamentando em bases científicas o processo de criação, execução, apreciação, técnica, sem fragmentação, num contínuo desenvolvimento.

Para uma melhor compreensão do estudo de Swanwick, sugiro a leitura do texto encontrado em: http://trombeta.cafemusic.com.br/trombeta.cfm?CodigoMateria=756&procura=Swanwick, que resume de forma prática a idéia central de sua Teoria Espiral, considerando ainda como relevante para a prática do Educador Musical, a proposta de uma pesquisa mais completa e detalhada de seu trabalho.

Profª Claudia Conte dos Anjos Lacerda

Prática de Ensino/Licenciatura em Música/Unincor-Leopoldina

domingo, 27 de abril de 2008

CIRANDA DA METEMORFOSE EXPRESSIVA

A professora Rosvita contextualizou historicamente a arte na educação, as diferentes abordagem e conceitos no decorrer dos anos, pontuando questões como o caráter utilitário, o psicologismo na interpretação da expressão artística infantil, as técnicas academicistas, o debate entre a interferência na produção artística, mais especificamente no desenho da criança e a não interferência, a produção artística como simples expressão e a produção como construção de um processo de conhecimento.
Na questão da interferência do professor na produção do aluno, discutimos essa interferência como uma “alimentação” das referências que temos e que podemos vir a ter, ampliando assim nosso repertório de vivencias. Para o meu entendimento, fiz um comparação dentro da prática da alfabetização musical, com o modelo (T)EC(L)A de K. Swanwick, baseado nos princípios da execução/performance, composição e audição/apreciação. Nos parâmetros da apreciação, execução e composição/criação, podemos reconhecer sete categorias: o reconhecimento e discriminação, resposta expressiva, armazenamento e recuperação, memorização e imitação, execução, improvisação e composição que é a criação em si (OGILVIE, 1992). Analisando estes estágios, compreendemos melhor a importância de, enquanto educadores, apresentarmos referenciais para subsidiar o processo de criação. Assim como para o músico, a apreciação, o “ouvir” é fundamental no seu processo de composição autônoma; para a expressão criativa através do desenho, da arte visual, é fundamental o “ver”, o experenciar diferentes formas, cores, texturas, aumentando assim o repertório referencial para a construção de sua própria expressão criadora.
Para lermos e relermos, interpretar ou calar, o “texto” tem que estar presente. É como se constantemente costurássemos e recosturássemos uma colcha de retalhos, onde cada pedaço é um elemento novo que tem sua própria história e seu enredo para que eu me apropriasse dele e o conduzisse a minha própria produção. Sempre buscamos referenciais, seja na natureza, no nosso próprio corpo, experiências; das pinturas rupestres nas cavernas da pré-história, onde se representavam as caçadas, os fenômenos da natureza, como uma forma de linguagem, registrando assim seus feitos e histórias; até o surrealismo de Dali; ou os grafismos da crianças nos seus primeiros desenhos; ou ainda as costuras, tiras por tiras, objetos por objetos de Artur Bispo do Rosário. Na Espiral de Swanwick, como na ciranda da metamorfose expressiva, o movimento é circular e contínuo, construímos e reconstruímos à partir de referenciais e vivencias, sejam em relação ao meio, aos objetos mas principalmente nas sócio-interações. Como destaca MOLL (1996), com base nos estudos de Vygotsky, amadurecer ou desenvolver funções mentais é algo que deve ser encorajado e medido pela colaboração, e não por atividades independentes e isoladas. O que as crianças podem realizar com assistência, ou em colaboração, poderão amanhã realizar com independência e competência.
A professora Rosvita nos despertou para essa discussão sobre a medida da interferência do professor na produção e expressão artística do aluno. Ficou claro no meu entendimento, a necessidade de proporcionar ao aluno materiais variados, tamanhos e tipos diversos, diferentes possibilidades do fazer, leituras variadas de diferentes expressões e estilos, oportunidades de apreciação, uma alimentação estética ativa, na espiral contínua e ascendente entre o nível de desenvolvimento real, o desenvolvimento potencial e a zona de desenvolvimento proximal, conforme o conceito vygotskyano. Por toda essa reflexão, escolhi resumir as discussões na fala de LIBANEO (1986), quando diz que:

Há sempre um professor que intervém, não para se opor aos desejos e necessidades ou à liberdade e autonomia do aluno, mas para ajudá-lo a ultrapassar suas necessidades e criar outras, para ganhar autonomia, para ajudá-lo a compreender as realidades sociais e sua própria experiência.


CLAUDIA CONTE DOS ANJOS LACERDA
(Texto elaborado a partir da 1a aula com a Professora Rosvita Kolb
UFJF/FACED/CEART/2002 e com os referenciais bibliográficos abaixo)


BIBLIOGRAFIA:

DEBATES, nº 4 – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de Letras e Artes da Unirio. Rio de Janeiro, CLA/Unirio, 2001, 104 p.

BEAUMONT, Maria Teresa. “A prática da alfabetização musical (...)” – Anais do X Encontro Anual Nacional da ABEM. Uberlândia. UFU. 2001